
Vertaling
Dit gedicht
was in een andere taal
een ander gedicht
een klok die achterloopt
maar de juiste tijd aangeeft
op een andere plek
een kind dat een taal
verzint die het enkel spreekt
met een ander kind
een hut uit de bergen
herbouwd op het strand
verweerd door de werking van de zee
waar het om gaat is
dat de twee gedichten zich
op een bepaald punt tot elkaar verhouden
als natuurkundige vergelijkingen
uit oude schoolboeken
*
Ik kan geen gedichten schrijven over katten
Cattografie beheers ik niet.
Ana Cristina Cesar
Ik kan geen gedichten schrijven over katten
als ik het probeer gaan ze er
stiekem vandoor
de woorden
dartelen of
dansen
ze krijgen kat
noch staart te pakken
op tafel ligt
kalm en warm
een blad met de inkt nog nat
een witte pagina met zwarte vlekken:
ziedaar mijn gedicht over katten
*
Achterstevorengedicht
In het geheugen loopt een dag
van achter naar voor
ik steek een gedicht aan met een ander gedicht
zoals je een sigaret aansteekt met een andere
wat voor spoor laten we achter
van wat we niet deden?
hoe werken gaten?
op foto’s
zijn we steeds jonger
van achter naar voor
loopt een dag in het geheugen

Tradução
Este poema
em outra língua
seria outro poema
um relógio atrasado
que marca a hora certa
de algum outro lugar
uma criança que inventa
uma língua só para falar
com outra criança
uma casa de montanha
reconstruída sobre a praia
corroída pouco a pouco pela presença do mar
o importante é que
num determinado ponto
os poemas fiquem emparelhados
como em certos problemas de física
de velhos livros escolares
*
Não sei fazer poemas sobre gatos
Não sei gatografia.
Ana Cristina Cesar
Não sei fazer poemas sobre gatos
se tento logo fogem
furtivas
as palavras
soltam-se ou
saltam
não capturam do gato
nem a cauda
sobre a mesa
quieta e quente
a folha recém-impressa
página branca com manchas negras:
eis o meu poema sobre gato
*
Poema de trás para frente
A memória lê o dia
de trás para frente
acendo um poema em outro poema
como quem acende um cigarro no outro
que vestígio deixamos
do que não fizemos?
como os buracos funcionam?
somos cada vez mais jovens
nas fotografias
de trás para frente
a memória lê o dia
Uit: O livro das semelhanças (2015)
Vertaling Marilyn Suy
Foto’s Ana Carvalho
Que poemas lindos! (e que lindo vê-los escritos, nas duas línguas)
A começar a aprender holandês e à procura do esgotadíssimo “O que resta do dia”, de Judith Herzberg (Cavalo de Ferro), acabei por descobrir este blog. Comecei a ler os livros de poesia de Judith, em holandês, tentando traduzi-los palavra a palavra. Das minhas traduções literais, nascem poemas estranhos. Muito curiosa por saber como soariam se estivessem traduzidos por quem os conseguem ler “por dentro”.
Obrigada pelas suas palavras amáveis, Sandra. Um dos poemas incluídas na antologia ‘O que resta do dia’ de Judith Herzberg (tradução: Ana Maria Carvalho) encontra-se aqui: https://www.snpcultura.org/arquivo_vol_judith_herzberg.html